De volta a ativa: Refugio...palavra sem igual!

Caros leitores,

Após grande dificuldade na cidade de Parintins quanto a conexão, me foi possível escrever aos senhores de madrugada, momento em que a internet volta a funcionar. Hoje, em específico, conseguí internet mais cedo. Passo a explicitar a história de como chegamos a esse impasse tecnológico.

Era manhã de segunda-feira, dia 14 de setembro...tudo parecia normal em Parintins, cheguei até mesmo a pensar que seria apenas mais um dia. Tudo foi como esperado, telemedicina, atendimento a pacientes. Fui então pedalando minha bicicleta até a casa da Ray (mulher que tem nos alimentado aqui - somos todos mt gratos a ela). Chegando lá, que maravilha, sopa de mocotó. (infelizmente existe uma tríade amazonense cujo poder culinário é acima de minhas possibilidades gustativas e portanto minhas próprias entranhas não me permitem participar: Bodó, Mocotó e Pitiú - sendo este último um primo pobre do tracajá). Devido ao alto teor lipidico da iguaria local, tentei sobreviver só com o caldo. Cansado...Desanimado...e...ainda com fome, iniciei meu lento retorno ao alojamento (de bicicleta). Em poucos momentos (ou pedaladas) me ví cercado por sombras que tomavam o chão...não tive escolha...olhei para o céu e ví que sobre mim se abateria grande tormenta...temí...minhas pedaladas tropegas transformaram-se em rojões desesperados...mas...não se pode fugir da mãe natureza ou da fúria de uma tempestade...o inevitável aconteceu...eu...de jeans e camiseta...fui apanhado pelas águas. Logo procurei refúgio em um toldo que havia perto do bumbódromo...um pouco molhado, mas pelo menos a salvo. Esperei a chuva passar e voltei ao alojamento...a internet ainda funcionava...

E foi tarde e noite daquela segunda-feira.

Novo dia amanhece...o calor parecia nos tirar o fôlego...fui trabalhar. Tudo parecia normal...seria este mais um dia comum? Esquecí do principal...aqui não existem dias comuns!

Após o trabalho da manhã fui novamente à casa da Ray, desta vez, mais uma vez fui surpreendido...almoço: Bodó no tucupí...comí arroz! Ainda sentindo o vazio em meu trato gastrointestinal iniciei minha lenta jornada ao dormitório...Pedalei (rolos) durante uns 15 minutos...já havia passado da praça dos bois e do bumbódromo não havia mais toldos, nem teto, nem mesmo árvores. Mas as sombras me perseguiam...Olhei aos céus e dessa vez praguejei contra o universo...não havia como escapar. Veio sobre mim tormenta jamais sentida na pele de outro ser humano, raios, trovões e muita...muita chuva. Olhei para os lados e para frente...Havia uma esperança. Na minha frente, há uns 100 metros havia um antigo bar, hoje, depredado, com o teto caindo, com o chão caindo do barranco onde ele está, sem paredes. Era minha única salvação...pedalei...sim, pedalei com toda a força que meu corpo mal alimentado podia gerar. Adentrei aquele local, com frio, fome, e jeans pesado de água, camisa transparente, cabelos molhados e um calafrio que me percorria a espinha cada vez que vinha um vento. Foram 40 minutos de chuva torrencial. Após a chuva melhorar voltei pro alojamento. Dormi...e quando acordei, descobri que meu contato com o mundo exterior havia sido destruido...Parintins sem internet. NAO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Outro dia acordei e Giselle estava aqui comigo, pois veio com a mãe passar um fim-de-semana aqui. A levei para passear e contei a história...foi então que entendí o significado da palavra ironia...mostrei a ela o local onde fiquei...aquele bar abandonado...e ainda jazia alí a placa que dizia: Refugio`s Bar!

Um abraço!

Começarei novamente a descrever minhas atividades aqui...acompanhem e postem!